Foi em 1903 que a atividade de plantação florestal teve início no Brasil. Na época, coube ao engenheiro agrônomo Edmundo Navarro de Andrade a função de desenvolver o projeto de criação de hortos florestais ao longo das ferrovias para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro. O objetivo era trazer espécies que atendessem ao reflorestamento das áreas desmatadas na construção da ferrovia, além de suprir a demanda de madeira e carvão para sua manutenção. Após uma extensa pesquisa, o Eucalipto, árvore nativa da Austrália, foi o escolhido por Navarro para tal projeto.
Há relatos referentes à introdução do Pinus no Brasil na mesma época, segundo o naturalista sueco Alberto Löfgren, em “Notas Sobre as Plantas Exóticas Introduzidas no Estado de São Paulo”, de 1906. Há 16 espécies de Pinus e 55 de Eucalyptus citadas na obra. No caso do Pinus, que é originário da América do Norte, o objetivo era utilizar a madeira para abastecimento industrial, processamento mecânico e produção de madeiras serrada e laminada, papel e celulose, substituindo o Pinheiro do Paraná (Araucaria angustifolia), que foi extremamente explorado.
Ambas as espécies tiveram um bom desenvolvimento no país, o que levou o seu plantio a uma considerável ampliação, especialmente a partir da década de 70, quando esta cultura passou a receber incentivos fiscais. O resultado é que, hoje, o Brasil possui 7,83 milhões de hectares de área reflorestada, sendo que, deste total, 5,7 milhões de hectares são de Eucalipto e 1,6 milhão de hectares, de Pinus.
Outras espécies, incluindo as nativas, ocupam apenas 590 mil hectares, e é esta realidade que buscamos mudar. Pinus, Eucalipto e outras árvores exóticas têm um papel importante na cadeia produtiva do país. Porém, reflorestamentos com árvores nativas têm um impacto significativamente maior na conservação de fauna e flora locais, pois fazem parte daquele bioma. No caso da Ymbu Agroflorestal, a escolha do Sabiá como carro-chefe ocorreu pelo fato de ser uma nativa da região, ter uma madeira extremamente durável, rústica, adaptada ao clima da região do semi-árido e ser uma leguminosa que fixa nitrogênio no solo. Além disso, suas folhas servem de alimento para ruminantes e as flores são ótimas para as abelhas nativas.
Reflorestamento com árvores nativas
Quando um reflorestamento ocorre com árvores nativas, o impacto ambiental é altamente positivo. Chuvas mais regulares, rios menos assoreados e água mais abundante são alguns dos benefícios que garantem a preservação da biodiversidade. Não é por acaso que há um sistema simplificado para a exploração de madeira nativa plantada fora de Reservas Legais, que permite uma exploração muito mais tranquila em relação a limites e licenças, e isso ocorre até mesmo com espécies ameaçadas de extinção.
Isso não significa que esta seja uma atividade simples. Ao contrário, o reflorestamento com espécies nativas exige assistência técnica de qualidade, pois é fundamental que ocorra de maneira que favoreça os processos e funções do ecossistema responsáveis por garantir a sobrevivência do Planeta e, ao mesmo tempo, gere renda aos produtores e bem-estar social. E tudo começa com o estudo da área escolhida. “Nossa missão de trabalhar com árvores nativas no Semi-árido brasileiro partiu da observação do ciclo natural desse Bioma”, explica Mathias Lessmann, diretor e fundador da Ymbu Agroflorestal. “Existe uma pré-disposição que categoriza a Caatinga como um ambiente extremamente seco e improdutivo. Porém, se observarmos como a natureza se comporta nessa região, é muito claro que existe uma lógica extremamente eficiente, adaptada, desenvolvida ao longo de milhares de anos de evolução.”
O segredo, segundo Lessmann, está em trabalhar em harmonia com os ciclos naturais. “Otimização dos recursos hídricos, cobertura do solo e proteção dos vento são alguns dos itens fundamentais para este processo”, conta. “Muitas áreas da Caatinga recebem chuvas na média de 600-800mm anuais. É bastante água. Precisamos cuidar do solo para que essa água seja absorvida de uma maneira eficiente, além de oferecer proteção para evitar que evapore muito rapidamente.” Seguindo esta lógica, a Ymbu Agroflorestal criou um sistema de produção que vem gerando bons frutos, sem irrigação, apenas otimizando os recursos e processos naturais.
O Brasil no mercado mundial da madeira
As condições de solo e clima brasileiras favorecem o desenvolvimento das atividades florestais, fazendo com que obtenha grandes vantagens em relação a outros países. Além disso, sabe-se que a área com potencial de reflorestamento por aqui é bastante extensa, o que proporciona ao Brasil a oportunidade de ser altamente produtivo e competitivo dentro do mercado mundial de madeira, cuja realidade apresenta baixa oferta (por conta do esgotamento dos estoques naturais) e alta demanda.
Há um crescente interesse, por parte da sociedade, em valorizar produtos nativos e nacionais, preferencialmente inseridos em um ambiente sustentável. A Ymbu Agroflorestal, através do cultivo do Sabiá em modelo inovador, é um exemplo de que é possível suprir esta demanda sem agredir o meio ambiente, e este é um modelo de negócio com tendência a crescer constante e consideravelmente.
Sendo o Brasil uma referência mundial quando o assunto é madeira, a expectativa em relação ao potencial de mercado das plantações de árvores nativas fica ainda mais interessante. Para se ter uma ideia, a exportação de produtos florestais brasileiros é superada apenas pelas vendas de soja e carne. Em 2017, o setor foi responsável por 5% das exportações totais do país e 10% das exportações do agronegócio. O saldo positivo foi de US$ 10 bilhões na balança comercial.
Apesar da economia do Brasil estar instável desde então, mas isso não significa que o mercado de madeira esteja prejudicado. Ao contrário, ainda mais quando se trata de madeira de reflorestamento sustentável, já que os mercados tradicionais estão cada vez mais exigentes em relação à origem dos produtos, e nesta questão, os que estão de acordo com o meio ambiente e apresentam boa qualidade e durabilidade saem na frente. No caso do Sabiá, por exemplo, as perspectivas são as melhores possíveis, conforme relatou o engenheiro florestal Stéfano Ilha Dissiuta neste post.