Sabiá, uma boa opção para a construção civil - Ymbu Agroflorestal

Sabiá, uma boa opção para a construção civil

Carro-chefe de nossa fazenda, o Sabiá é uma planta exclusiva da Caatinga, cuja madeira é muito utilizada em ambientes externos. Devido a sua resistência e durabilidade, o mais comum é encontrá-la em forma de mourões, estacas e postes.

Ampliar as opções de uso desta madeira, no entanto, é algo que nos instiga. Visualizamos muitas possibilidades para o Sabiá e, entre elas, está a sua utilização na construção civil, experiência já vivenciada aqui na Ymbu.

Deck da Ymbu

Em nossa propriedade, construímos um deck. “Ele possui cerca de 100 m² e está exposto ao tempo há quase dois anos, sem nenhum desgaste aparente. O resultado do nosso experimento foi ótimo.”, conta Mathias Lessmann, diretor da Ymbu Agroflorestal. “A madeira do Sabiá tem os veios avermelhados, que dão uma estética muito especial às estruturas. É extremamente dura e pesada, características das madeiras de lei.

As estacas de Sabiá utilizadas no deck são provenientes do Plano de Manejo Sustentável da própria Ymbu Agroflorestal, na Fazenda Salgadinho. “Após a colheita, as estacas passaram por uma secagem ao ar livre por cerca de quatro meses, para evitar que trabalhem, e serradas em peças de 1 metro de comprimento por 6 a 8 centímetros de largura e 2.5 centímetros de grossura. Fizemos um polimento final com lixadeira e aplicamos um impregnante chamado Stain”, explica Lessmann. “Devido às irregularidades no formato das estacas, as peças serradas são únicas. Quando encaixadas, criam um resultado final incrível, com formatos orgânicos e assimétricos similares aos que encontramos na natureza.”

Viga recíproca da Ymbu

Outra experiência interessante desenvolvida em nossa sede foi a construção de uma viga recíproca. “Apesar da alta durabilidade, as estacas de Sabiá têm uma limitação de tamanho comparado a madeiras típicas de construção. O padrão de comprimento das estacas e mourões é na faixa dos 2 a 2,20 metros. É possível conseguir tamanhos maiores, mas não com regularidade. Por esse motivo, as construções de estruturas de telhados comuns, como tesouras, não são tão simples. Nossa solução foi usar a técnica das vigas recíprocas”, conta Lessmann.

Um clássico da construção civil, o modelo aparece em estudos de grandes nomes da arquitetura e da engenharia, como Sebastiano Serlio, arquiteto italiano renascentista; Leonardo Da Vinci, italiano mais famoso por sua obra como artista, mas que também era engenheiro; e Villard de Honnecourt, conhecido mestre-de-obras francês do séc XIII.

Estruturas recíprocas são construídas num sistema de encaixe, sem pregos nem cola. Segundo Olga Popovic Larsen, no livro “Reciprocal Frame Architecture”, “são armações de grades tridimensionais usadas principalmente como estrutura de telhado, consistindo em vigas inclinadas e de apoio mútuo colocadas em um circuito fechado. A extremidade interna de cada viga repousa e é suportada pela viga adjacente. Na extremidade externa, as vigas são apoiadas por uma parede externa, vigas horizontais ou por colunas. As vigas radiais de suporte mútuo, colocados tangencialmente em torno de um ponto central de simetria, formam um polígono interno. As extremidades externas das vigas formam um polígono externo ou um círculo. Se a estrutura recíproca for usada como uma estrutura de telhado, o polígono interno oferece a oportunidade de criar uma entrada de luz.”

“Construímos duas estruturas, de cerca de 6 metros de profundidade, 12 metros de largura e 4 metros de altura, sem nenhum apoio central, para abrigarmos nossos tratores e implementos agrícolas. Além de ficar uma estrutura extremamente leve e rígida, concluímos toda a construção em apenas dois dias, tudo com madeira de produção própria”, diz Lessmann.

Ponte da Marcenaria Magnani

O Sabiá também é uma ótima opção para pontes, como a que Marcenaria Magnani construiu na Praia do Preá, no Ceará, utilizando estacas e peças de deck do nosso manejo florestal.

De acordo com Rafael Freitas, um dos responsáveis pelo projeto, a escolha do Sabiá ocorreu por dois motivos. “A gente quis trazer a representação cultural para o projeto, que era numa pousada com essa pegada nativa, do Ceará, e lá eles confiam muito nesse tipo de madeira que, mesmo sem tratamento, exposta, dura bastante. Também é uma madeira de rápido crescimento e relativamente barata, e nosso desafio era montar uma ponte que atravessasse um lago com um budget baixo. Então, a gente escolheu o Sabiá, porque já vem provando ser muito resistente e ainda conseguiu linkar com esses valores culturais.”

A estética do Sabiá contou muito na hora da construção. “O parapeito tem as ondas da madeira, que são um aspecto muito interessante. Já no piso, a gente usou o modelo utilizado pela Ymbu no deck. Esteticamente, o efeito é maravilhoso. A madeira, por ser bem seca, tem uma técnica específica pra trabalhar com ela. Você não vai montar um deck da mesma maneira que montaria um com madeiras de lei mais tradicionais”, diz Freitas. “Foi bastante desafiadora essa parte do deck, mas a gente seguiu bastante as dicas do Mathias, com a experiência que ele teve na Ymbu, e o resultado ficou muito bacana. Teve uma ou outra que abriu, mas não significa nem 1% da madeira total usada.”

A mão-de-obra local também fez diferença na construção. “Como era no Ceará, o pessoal sabe trabalhar muito bem com o Sabiá. Usamos bastante enxó para fazer as pontas e os encaixes de 45º e, como o deck tem bastante curvatura, com o enxó, a gente conseguiu diminuir um pouco a curvatura e foi mais fácil de ir encaixando”, conta. “Foi um trabalho manual, mas como o pessoal tem muita experiência com essa ferramenta, o negócio acabou caminhando relativamente rápido. Acabou sendo um deck que eu considero artesanal.”

Além do Sabiá, foi utilizada também Maçaranduba numa parte da estrutura, e o tratamento foi feito com Polisten. A madeira foi usada fincada na água e, como a construção é recente, ainda não passou pelo teste de resistência. “Por enquanto, não teve nenhum tipo de oscilação ou trabalho da madeira. Ela está perfeita e vai provar sua resistência mesmo pelos próximos dois ou três invernos”, conclui Freitas.

Carrinho e estante da Farpa

Desde que conheceram a Ymbu Agroflorestal, os arquitetos da Farpa ficaram interessados em desenvolver algum projeto com as madeiras da empresa. “Normalmente, trabalhamos com as madeiras mais comerciais, e sempre foi uma vontade experimentar outros tipos de matéria-prima, provenientes de manejo sustentável e, principalmente, resultado de um projeto que olha para o ciclo produtivo como um todo, ainda bem raro hoje em dia no Brasil”, conta André Carvalho, sócio da Farpa.

Foi decidido, então, usar o Sabiá no Carrinho Tarrafa e na estrutura da Estante Modular, que seriam apresentados MADE 2019. “Havia a intenção de trazer a questão da sustentabilidade e o uso de madeiras alternativas para o circuito do design.”

De acordo com Carvalho, “ambos os móveis têm estrutura bem delgadas, o que facilitou o uso do Sabiá, que, por não ser uma árvore de grande porte, normalmente oferece peças estreitas. Por ser uma madeira bem densa, trouxe a resistência necessária para esses móveis.”

O aspecto estético é outro fator importante neste caso. “O acabamento dos móveis ficou muito bom e o Sabiá, por ser uma madeira bem desenhada e diferente do que estamos acostumados a ver, chamou bastante atenção.”

O único porém, segundo o arquiteto, foi o fato da madeira não estar totalmente seca. “Por conta disso, tinha uma tendência a empenar e torcer, mas acredito que, fazendo o processo de desdobra e secagem corretamente, essa tendência diminua muito. Mesmo assim, foi possível utilizá-la e, depois dos móveis prontos, ela não apresentou mais a tendência de empenar e não ‘trabalhou’ mais.”

Como podemos ver, são muitas as possibilidades a serem exploradas com a madeira de Sabiá. Se você tem um projeto e ficou interessado em desenvolvê-lo utilizando este produto, entre em contato conosco. Vamos ter muito prazer em participar dele com nossa madeira que, além de todas as suas qualidades, ainda é produzida de forma sustentável, através de reflorestamento.