Abelha-canudo, nativa da Caatinga (Foto: Fabio Nunes/ONG Aquasis)
Principais agentes polinizadores, as abelhas são fundamentais para o futuro do planeta.
Embora aves, morcegos, moscas, vespas, borboletas e outros insetos também desempenhem função polinizadora, as abelhas são as mais eficientes, pois se alimentam unicamente de néctar e pólen.
Não à toa, esses pequenos bichinhos ganharam um dia só seu: 20 de maio. A data, estabelecida pela ONU, durante Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2017, no entanto, tem a finalidade de conscientizar a população a respeito do grande risco de extinção das abelhas, cuja consequência é o colapso do planeta.
Por que as abelhas estão sumindo?
Os principais fatores são as mudanças climáticas, a expansão agrícola e o aumento do uso de pesticidas.
Um estudo coordenado por Peter Soroye, da Universidade de Ottawa, no Canadá, e publicado no início deste ano, mostrou que a extinção está diretamente ligada aos extremos de temperatura mais quentes e mais frequentes.
Para o pesquisador, podemos estar entrando no sexto evento de extinção em massa do planeta.
“A expansão agrícola avança sobre florestas, e destrói os habitats”, afirma Ana Assad, diretora executiva da Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A), em entrevista ao Uol. De acordo com ela, todas abelhas, mesmo as solitárias, fazem ninho, e os plantios anuais, como soja e milho, inviabilizam sua formação.
“Áreas florestais próximas são essenciais para a conservação das abelhas. Sem elas, as espécies morrem. Sem contar os agrotóxicos, principalmente inseticidas, que afetam diretamente o ciclo de vida dos polinizadores”, afirma.
O que aconteceria se as abelhas fossem extintas?
Sem abelhas, 87% das mais de 308 mil espécies de plantas conhecidas podem deixar de se reproduzir – em regiões tropicais, esta quantidade aumenta para 94%.
Elas são essenciais para a sobrevivência das florestas e da agricultura. 90% da produção de comida depende das abelhas, cujo trabalho movimenta US$ 500 bilhões no mundo. Só no Brasil, são US$ 12 bilhões.
Na prática, isso significa que, sem abelhas, teríamos uma crise alimentar gravíssima. Assim como elas, frutas, verduras e legumes seriam extintos, comprometendo toda a cadeia alimentar e colocando em risco a vida humana e animal.
“Muitas árvores dependem das abelhas. Se o sucesso reprodutivo diminuir, a vegetação vai mudar. A floresta vai ser substituída por uma vegetação mais herbácea”, afirma Betina Blochtein, bióloga da PUC-RS, em entrevista ao Uol. “Elas coevoluíram juntas, em relações muito estreitas. Se falta abelha, as plantas sofrem, e o inverso é verdadeiro. O sistema vai ficando mais enfraquecido, mais caótico, e acaba por mudar todas as relações entre os organismos. Repercute na vida do ser humano, naquele ambiente e na terra como um todo.”
Como reverter a situação?
O pesquisador Peter Soroye, da Universidade de Ottawa, no Canadá, e seus colaboradores criaram uma maneira de prever extinções locais. A ferramenta indica se as mudanças climáticas estão fazendo as temperaturas excederem o que as abelhas podem suportar.
“Fomos capazes de prever mudanças tanto para espécies individuais quanto para comunidades inteiras de abelhas com uma precisão surpreendentemente alta”, afirma o pesquisador.
Usando dados de 66 espécies diferentes de abelhas da América do Norte e da Europa, coletados ao longo de 115 anos, os pesquisadores foram capazes de determinar que as populações estão desaparecendo nas regiões onde as temperaturas extremas aumentaram, ou onde as oscilações de temperatura se tornaram mais intensas.
A parte mais interessante é que o método criado pelos pesquisadores, em teoria, pode ser utilizado para outras espécies de insetos e animais. Ou seja, se colocada em prática de maneira abrangente, a ferramenta pode ser capaz identificar áreas onde há grande risco de extinção, o que nos permitiria agir para evitar que as espécies desapareçam.
Com relação às abelhas, os pesquisadores sugerem criar e manter habitats que ofereçam abrigo. Ações como o plantio de árvores e arbustos na cidade ou a conservação de encostas podem permitir quem as abelhas fujam do calor. Isso sem contar o principal, que são as ações para frear as mudanças climáticas e a emissão de gases do efeito estufa.
Políticas públicas são essenciais para a preservação das abelhas e, para ajudar, um grupo de pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências e da Universidade Nacional de Singapura desenvolveu um estudo, publicado no periódico Current Biology, em novembro de 2020.
Foram analisados quase seis milhões de dados de ocorrência de 20 mil espécies de abelhas, disponibilizados em bancos públicos. O material foi incorporado à lista de verificação desenvolvida pelo renomado entomologista John Ascher, tornando-se uma poderosa arma de combate à extinção das abelhas.
O que podemos fazer para ajudar
Todos podemos participar da luta pela preservação das abelhas, mesmo em pequena escala. De acordo com o ONU, atitudes como as citadas abaixo são muito importantes:
– Plante diversidade de espécies nativas que floresçam em diferentes estações;
– Compre mel natural de produtores locais;
– Adquira produtos de fontes e produtores sustentáveis;
– Evite pesticidas, herbicidas e outros produtos nocivos em seu jardim;
– Proteja as colônias de abelhas e, se possível, adote uma criação;
– Conserve uma fonte de água para as abelhas ao deixar uma bacia com água do lado de fora;
– Ajude os ecossistemas florestais;
– Aumente a conscientização sobre o compartilhamento de informações entre comunidades e redes.
Foto: Abelha-canudo, nativa da Caatinga (Crédito: Fabio Nunes/ONG Aquasis)
Fontes: Uol, Superinteressante, Tempo, ONU News