O Sexto Relatório de Análise (AR6, em inglês) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) teve sua primeira parte divulgada no início de agosto, em Genebra. E as notícias não são boas.
Antes de tudo, é bom explicar que os relatórios do IPCC são divididos em três partes. Cada uma delas é produzida por um Grupo de Trabalho (GT) com diferentes enfoques. O estudo divulgado agora é o GT1, cujo tema são as mudanças climáticas e que conta com uma equipe formada por 234 autores e 517 colaboradores de 66 países (do Brasil, há sete profissionais envolvidos) em sua produção.
Em milhares de páginas, o GT1 traz todo o conhecimento científico sobre as mudanças climáticas globais disponível no mundo. No próximo ano, o IPCC irá divulgar os relatórios do GT2, que analisa os impactos da crise climática, e do GT3, que analisa possíveis medidas de combate e adaptação a esse fenômeno.
Para produzir o relatório, o grupo de trabalho do IPCC analisou 14 mil estudos e trouxe conclusões que, embora amplamente divulgadas, ainda geram muitas dúvidas em uma parcela da sociedade. Porém, é fato: as mudanças climáticas são reais e foram causadas pelo ser humano, como diz a primeira mensagem do Sumário para Tomadores de Decisão (Summary for Policy Makers), um resumo executivo dos resultados, que acompanha o relatório:
“É inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra. Ocorreram mudanças rápidas e generalizadas na atmosfera, no oceano, na criosfera e na biosfera.”
Além disso, o relatório afirma que as mudanças estão se intensificando numa velocidade sem precedentes e suas consequências são gravíssimas e irreversíveis.
De acordo com o GT1, a atual situação foi causada pelo ser humano, que lançou à atmosfera 2.390 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) entre 1850 e 2019. Entre 80% e 90% dessas emissões foram geradas pela queima de combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão mineral.
Ou seja, as atividades humanas estão superaquecendo o planeta. Se medidas de redução das emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera não forem tomadas, de forma drástica, imediata e muito significativa, as consequências serão catastróficas.
A previsão é que, se nada for feito, há de 95% a 100% de probabilidade que o aquecimento global ultrapasse a trágica marca de 2°C até o final deste século.
O aumento da temperatura tem como consequência eventos que já estamos presenciando. Crise hídrica, mudanças de correntes de ar, ondas de calor e frio intensos, derretimento das geleiras, aumento do nível do mar, desertificação e acidificação dos oceanos são alguns deles.
Amostras puderam ser vistas nas últimas semanas em todo o mundo. A onda de calor no Canadá, que deixou mais de 100 mortos, e as chuvas torrenciais na Europa, que também mataram quase 200 pessoas, são algumas delas. A mudança brusca de temperatura e o frio intenso nas regiões Sudeste e Sul do Brasil também é um exemplo.
Em vídeo, no canal da BBC Brasil, o repórter João Fellet explica como e por que isso acontece. Clique aqui para assistir.
Durante a divulgação do relatório, realizada ao vivo durante uma coletiva de imprensa do IPCC, Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e secretária-geral adjunta das Nações Unidas, ressaltou a importância de vermos a crise climática como um problema do presente. “Ninguém está seguro”, disse. “Precisamos encarar as mudanças climáticas como uma ameaça imediata. É hora de sermos sérios, porque cada tonelada de CO2 emitida agrava o aquecimento global.”
Até 2019, já foram emitidas 2.390 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera. Para limitar o aquecimento global a 1,5 °C, não poderíamos passar de 2.900 bilhões de toneladas. Sendo assim, nosso saldo está bem baixo. Seriam de 400 a 500 bilhões de toneladas de CO2 a serem emitidas nas próximas décadas.
Levando em consideração que a emissão anual é de 40 bilhões de toneladas, o limite de 1,5 °C seria ultrapassado em 2040. Caso a emissão aumente, chegaremos a 4° C até 2100.
Sendo assim, temos muito pouco tempo para agir e tentar manter o aumento em, no máximo, 1,5 °C, que é considerado minimamente seguro e possível.
Para ter acesso ao relatório (em inglês), clique aqui.
Em gráficos, o Jornal da USP resumiu algumas das principais conclusões e previsões do relatório. Veja:
Foto: Pexels