Dia de limpar o lixo do Planeta - Ymbu Agroflorestal

Dia de limpar o lixo do Planeta

Green sea turtle (Chelonia mydas) with a plastic bag, Moore Reef, Great Barrier Reef, Australia. The bag was removed by the photographer before the turtle had a chance to eat it.

Por Bia Figueiredo

Foi-se o tempo em que voltar da praia cheio de areia e queimaduras de sol somavam a pior experiência que se poderia ter ao visitar a beira-mar. Hoje, antes mesmo de chegarmos à areia, nos deparamos com resíduos deixados por outros visitantes que, por falta de consciência ou iniciativa, acreditam que o chão seria o lugar mais conveniente para se descartar o que não mais lhe serve. Porém, essa é uma porcentagem pequena se compararmos ao lixo que não é coletado e tem destinação inapropriada.

Os oceanos recebem anualmente mais de 25 milhões de toneladas de resíduos, sendo que cerca de 80% têm origem nas cidades e correspondem ao lixo que não é coletado e tem destinação inapropriada, sendo os outros 20% de atividade marítima. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), materiais de plástico e restos de cigarro representam mais de 90% dos resíduos encontrados no ambiente marinho brasileiro.

No Brasil, 2 milhões de toneladas desses resíduos chegam por ano aos oceanos, sendo o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Desse total, mais de 10,3 milhões de toneladas foram coletadas (91%), mas apenas 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas, ou seja, reprocessadas na cadeia de produção como produto secundário. Os dados são da WWF Brasil.

Estima-se que, em 2050, teremos mais plásticos do que peixes nos oceanos. Isso se confirmando ou não, sabemos que a vida selvagem marinha está sofrendo com os efeitos da poluição por plástico. Os animais frequentemente se sufocam com o lixo flutuante e muitos ingerem esses resíduos, confundindo-os com alimentos. O plástico entra na cadeia alimentar e estima-se que quem come frutos do mar regularmente ingere cerca de 11 mil pedaços de microplástico por ano. De acordo com o Ecycle, o microplástico está presente na água da torneira do mundo inteiro, no sal, nos alimentos, na cerveja, no ar e também no organismo humano.

Reciclar é a solução?

Reciclagem é um tema que vem ganhando cada vez mais espaço entre aqueles que questionam a eficácia dos programas de coleta de lixo e gerenciamento dos mesmos: é o processo de modificação dos resíduos sólidos, ou seja, do lixo. Isso envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, a fim de transformar esses materiais em insumos ou novos produtos.

De acordo com a definição do Ministério do Meio Ambiente, reciclagem é um conjunto de técnicas de reaproveitamento de materiais descartados, reintroduzindo-os no ciclo produtivo. De todo lixo produzido no Brasil (cerca de 76 milhões de toneladas ao ano), 30% tem potencial para ser reciclado, porém apenas 3% deste total é efetivamente reciclado.

É importante ressaltar apenas 22 milhões de brasileiros são contemplados por programas municipais de coleta seletiva, o que representa 18% da população e demonstra uma grande barreira para que a reciclagem seja efetiva no país. Sem o manejo correto, os resíduos podem cair em rios e córregos e, cedo ou tarde, chegam ao mar. Não à toa, existem hoje ilhas de plástico no Oceano Pacífico com tamanho equivalente a duas vezes o território da França.

Como mencionado acima, o plástico rouba a cena quando se trata de variedade e volume de objetos presentes em meio aos resíduos de descarte nos rios e mares.

Mas de onde vem todo esse plástico? Além de petrechos de pesca, que é uma das principais fontes de plástico do oceano, um artigo de Louisa Casson, do Greenpeace do Reino Unido, e a ONG OrbMedia explicam que existem algumas outras fontes: o lixo produzido nas cidades, as microesferas de plástico, os vazamentos industriais, a lavagem de roupas de fibras sintéticas, o atrito dos pneus nas ruas e o descarte incorreto de certos materiais usados em construção.

“Os principais rios ao redor do mundo carregam aproximadamente 1,15 milhão a 2,41 milhões de toneladas de plástico para o mar todos os anos – isso é equivalente a até 100 mil caminhões de lixo”, afirma Casson.

 

Fonte: Jornal O Globo

O Brasil no ranking mundial de produção, descarte e reciclagem de plásticos (Fonte: Jornal O Globo)

O cenário parece assustador, mas nem tudo está perdido

Programas e iniciativas relacionadas à mudança de políticas públicas, campanhas de incentivo ao consumo consciente e ONGs e grupos independentes que promovem limpezas periódicas de praias e rios têm se mostrado eficaz quando o assunto é arregaçar as mangas e mudar velhos hábitos.

E foi esse anseio por mudança que fez com que 4% da população da Estônia, uma pequena nação localizada na região Nordeste da Europa, saísse para limpar todo o país do lixo despejado ilegalmente, em questão de horas. Isso capturou a imaginação de pessoas em todo o mundo, que foram inspiradas a seguir o exemplo com a mesma fórmula ambiciosa de “um país, um dia”.

Essa iniciativa cresceu, virando um movimento mundial chamado World Cleanup Day ou Dia Mundial da Limpeza, que esse ano ocorre hoje, dia 19 de setembro, e contará com 180 países, 20 milhões de voluntários e um só dia pra limpar o Planeta.

Sentiu o desejo de contribuir? No website da iniciativa, você encontra informações de como se envolver.

Através de escolhas do dia a dia, buscando aderir ao princípio de “consciência ao invés de conveniência” e também à ideia de economia circular, é possível diminuir o impacto ambiental e assim preservar a nossa costa, um dia já famosa por inspirar obras musicais e poéticas.

A Ymbu Agroflorestal defende a mudança de hábitos em prol da saúde e preservação dos oceanos. Restaurar e preserver, somos adeptos.

Bia Figueiredo é bióloga e conselheira ambiental da Ymbu Agroflorestal

Foto destaque: Troy Mayne/Divulgação WWF