Amazônia, emissão de CO2 e o aquecimento global - Ymbu Agroflorestal

Amazônia, emissão de CO2 e o aquecimento global

Que o aquecimento global é causado pela emissão de gases de efeito estufa, como o carbono, já não é mais novidade. Falamos sobre isso em dois posts aqui no blog. Clique aqui e aqui para ler.

Embora o tema venha sendo debatido há bastante tempo, foi em julho desse ano que muita gente tomou um susto com uma notícia divulgada na Nature. O texto trazia a informação de que a Amazônia está emitindo três vezes mais CO2 do que consegue absorver.

De acordo com o estudo publicado na revista científica, que foi liderado por Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a floresta amazônica já deixou de atuar como uma inibidora do aquecimento global.

A causa é o aumento do desmatamento, especialmente entre o Pará e o norte do Mato Grosso, fazendo com que o Cerrado tenha se transformado numa fonte de emissão de carbono.

O estudo, que teve duração de oito anos (de 2010 a 2018), analisou amostras do ar coletadas em cerca de 600 voos em diferentes altitudes de quatro áreas distintas da Amazônia. Dessa forma, os pesquisadores puderam acompanhar as mudanças nas concentrações de CO2 em cada região. A pesquisa mostrou, ainda, que em áreas protegidas, a inversão ainda não aconteceu.

Segundo Luciana, que é coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Inpe, “essas regiões estão, em média, 30% desmatadas e apresentam uma emissão de carbono total 10 vezes maior do que a emissão no lado oeste, que, em média, está 11% desmatada”. “O impacto desse processo é muito grande e não é linear”, explica a líder do estudo.

Este seria o “ponto de virada” da floresta, que passa a ser um agente causador do aquecimento global. “Temos um ciclo muito negativo que torna a floresta mais suscetível a incêndios descontrolados”, disse a pesquisadora ao The Guardian.

Para Luciana, só há um caminho para reverter a situação: zerar a emissão de carbono com o fim imediato do desmatamento na Amazônia e com um esforço real em grandes projetos de recuperação.

Isso pode parecer impossível, mas não é. O próprio presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira, declarou, ainda em 2019, que não é preciso desmatar mais para ampliar a produção. De acordo com ele, não seria preciso haver contradição entre preservar as florestas e aumentar a produção agropecuária, que é a maior causadora do desmatamento.

“A área, atualmente, ocupada pela agropecuária é de 30% do território brasileiro apenas, mas com os ganhos de produtividade que vêm ocorrendo, nós temos condição de produzir mais que o dobro do que nós produzimos hoje na mesma área. Então, a agropecuária brasileira não precisa expandir (a área utilizada)”, afirmou Vieira em entrevista à BBC News Brasil.

Recentemente, em agosto de 2021, foi divulgado um levantamento realizado pelo Mapbiomas, um projeto que envolve ONGs, universidades e empresas de tecnologia. De acordo com o estudo, a agropecuária foi responsável por 90% da perda de vegetação natural do Brasil.

O levantamento mostra que o Brasil perdeu área de vegetação nativa equivalente a 10,25% do território nacional entre 1985 e 2019. Além disso, a área perdida acumulada é de 87,2 milhões de hectares, sendo que 9,3% da mata natural do país é secundária.

O Cerrado, onde a emissão de carbono vem crescendo, é o bioma que perdeu mais vegetação nativa. Já são 21,3% da área total da floresta. Saiba mais aqui.

No Pará, uma das regiões citadas no estudo divulgado pelo Inpe, outra pesquisa apresentou dados alarmantes. Publicada na Science Advances, ela cita a usina de Belo Monte como responsável pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa em Altamira.

De acordo com o estudo, realizado em parceria entre diversas universidades, a emissão de gases triplicou com a construção da usina.

Vale ressaltar que, segundo dados do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desmatamento da Amazônia em 2020 foi o maior dos últimos dez anos. O crescimento em relação ao ano anterior foi de 30%. Entre janeiro e dezembro do ano passado, mais de 8 mil quilômetros de floresta foram destruídos.